A hipocalcemia, ou a redução dos níveis de cálcio no sangue, é uma complicação comum após cirurgias da tireoide ou paratireoides, sendo frequentemente associada ao hipoparatireoidismo primário. Esta condição é especialmente prevalente após a tireoidectomia total, que é a remoção completa da tireoide.

Mecanismo e Causas

O paratormônio (PTH), produzido pelas paratireoides, é o hormônio responsável pelo controle dos níveis de cálcio no sangue. Devido à íntima relação anatômica das paratireoides com a tireoide, estas podem ter sua vascularização comprometida, serem lesionadas ou removidas acidentalmente durante a cirurgia tireoidiana. A redução dos níveis de cálcio ocorre devido à produção insuficiente de PTH e pode ser transitória ou permanente. A hipocalcemia é considerada permanente se persistir por mais de 12 meses após a cirurgia. Transitoriamente, a hipocalcemia ocorre em até 20% das tireoidectomias totais, enquanto casos permanentes variam entre 0,8% e 3%.

Sintomas de Hipocalcemia Pós-operatória

Os sintomas da hipocalcemia podem variar de leves a graves:

  • Leves: Formigamento na região perioral, nas mãos e pés, e cãibras musculares.
  • Graves: Convulsões, espasmos laríngeos, insuficiência cardíaca ou arritmias, crise de tetania e, em casos extremos, coma com risco de morte.

Os sintomas crônicos incluem calcificações cerebrais, nefrolitíase, nefrocalcinose, catarata, pele seca, queda de cabelo, unhas fracas, maior risco de infecções, insuficiência renal, doença cardíaca isquêmica e transtornos psiquiátricos como ansiedade, depressão e transtorno bipolar.

Tratamento da Hipocalcemia Pós-operatória

O objetivo principal do tratamento do hipoparatireoidismo é manter os níveis séricos de cálcio dentro da faixa inferior da normalidade (8,0 a 8,5 mg/dL) e reduzir a excreção urinária de cálcio (<250 mg/24h para mulheres e <300 mg/24h para homens). Isso ajuda a prevenir a formação de cálculos renais, um risco associado à suplementação excessiva de cálcio e calcitriol.

Todos os pacientes submetidos à tireoidectomia total devem ter seus níveis de cálcio monitorados no pós-operatório. Dependendo dos resultados, pode ser necessária a suplementação oral ou intravenosa de cálcio e calcitriol:

  • Sintomas Graves: Pacientes com crise de câimbras, convulsões ou alterações no eletrocardiograma, ou com cálcio ≤ 7,0 mg/dL, necessitam de reposição rápida de cálcio intravenoso, seguida por suplementação oral de cálcio e calcitriol.
  • Sintomas Leves ou Assintomáticos: Pacientes com cálcio > 7,0 mg/dL são tratados com cálcio oral e calcitriol.

Acompanhamento

Para alcançar a concentração ideal de cálcio sérico, é necessário monitorar os níveis de cálcio e fósforo semanalmente até a estabilização. Após isso, os níveis de cálcio, creatinina, ureia, 25-hidroxivitamina D e cálcio urinário de 24h devem ser monitorados a cada 6 meses.

Consulta com um Especialista

Se você tem alterações nos níveis de cálcio no sangue, é crucial procurar um endocrinologista experiente em distúrbios das paratireoides para um diagnóstico e tratamento adequados.