A amenorreia hipotalâmica é caracterizada pela ausência de menstruação devido a uma diminuição na secreção do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) pelo hipotálamo, sem uma causa orgânica subjacente. É considerada uma forma funcional de amenorreia, sendo desencadeada principalmente por três fatores: restrição alimentar, excesso de atividade física e alterações comportamentais.
Essas alterações comportamentais estão relacionadas a aspectos emocionais, sendo mais comuns em mulheres com traços de personalidade perfeccionistas e uma grande necessidade de aprovação social. Mudanças de humor também podem desempenhar um papel nesse contexto, afetando a regulação neuromoduladora da secreção de GnRH e levando à amenorreia.
A restrição calórica, seja por meio de dieta rigorosa ou exercício físico intenso, também pode contribuir para essa disfunção neuromoduladora do GnRH, o que frequentemente resulta em baixo peso em mulheres com amenorreia hipotalâmica.
Independentemente da causa, os sintomas incluem anovulação crônica e, consequentemente, hipogonadismo hipogonadotrófico, levando inicialmente a ciclos menstruais irregulares (oligomenorreia) e, eventualmente, à ausência de menstruação (amenorreia).
As principais complicações incluem infertilidade devido à falta de ovulação e baixa densidade óssea devido à deficiência de estrogênio. Em adolescentes, pode haver atraso no desenvolvimento puberal.
O diagnóstico da amenorreia hipotalâmica é complexo e baseia-se na exclusão de outras causas. É essencial realizar uma série de exames laboratoriais, incluindo dosagens hormonais e, em casos específicos, testes de provocação hormonal.
A investigação pode ser complementada com ressonância magnética em certos casos, como quando há sintomas neurológicos ou alterações hormonais específicas.
O tratamento é multidisciplinar e visa principalmente modificar comportamentos. Em casos de baixo peso, é importante aumentar a ingestão calórica e/ou reduzir a atividade física. Para questões emocionais, a psicoterapia é recomendada.

Se não houver reversão dos sintomas após a mudança comportamental, a reposição hormonal pode ser considerada, especialmente em mulheres com baixa densidade óssea. O uso de contraceptivos orais não é recomendado, assim como o tratamento com bisfosfonatos ou denosumabe para a baixa densidade óssea.
Mulheres que desejam engravidar devem ser encaminhadas para clínicas de reprodução assistida, com o GnRH exógeno sendo uma opção de tratamento de primeira linha para indução da ovulação, conforme as diretrizes da Endocrine Society.
Dr Victor Menezes é Endocrinologista, especialista em Endocrinologia Feminina, formado na Universidade de São Paulo (USP-SP)