Durante a gravidez, o corpo da mulher passa por transformações significativas, afetando os hormônios e o funcionamento da tireoide. É comum que as gestantes desenvolvam hipotireoidismo ou hipertireoidismo nesse período, destacando a importância de monitorar as mudanças na glândula.

A formação de nódulos na tireoide também é frequente durante a gravidez, embora não seja recomendado realizar ultrassonografias de rotina em gestantes. Em muitos casos, esses nódulos não representam riscos e apenas exigem acompanhamento. Caso a cirurgia seja necessária, é preferível realizá-la após o término da gestação.

Hormônios Tireoidianos na Gravidez

Os hormônios produzidos pela tireoide (T3 e T4) desempenham um papel crucial tanto para a gestante quanto para o bebê. Esses hormônios são essenciais para o desenvolvimento neurológico do feto, sendo vital que seus níveis estejam adequados. No início da gravidez, o feto depende inteiramente dos hormônios maternos, enquanto a tireoide fetal começa a se formar apenas por volta da 8ª semana de gestação.

O diagnóstico e tratamento adequados do hipotireoidismo ou hipertireoidismo são essenciais para evitar complicações para a saúde da mãe e do bebê. No caso da mãe, podem surgir aumento nos sangramentos, pressão arterial elevada e risco de aborto espontâneo. Para o bebê, as consequências podem incluir problemas mentais e déficits cognitivos.

Aqui estão as 10 informações essenciais sobre tireoide e gestação:

  1. Durante a gestação, a tireoide materna é mais exigida, sendo parte da fisiologia normal da gravidez, enquanto a do feto começa a funcionar plenamente apenas após a 20ª semana.
  2. O primeiro exame a ser realizado pela gestante deve ser a avaliação do hormônio TSH, fundamental para identificar riscos de disfunção tireoidiana ou diagnosticar problemas preexistentes. Em casos sutis, é recomendado repetir o TSH, considerando que é normal apresentar níveis um pouco mais baixos durante a gravidez.
  3. Disfunções tireoidianas podem acarretar sérios problemas durante a gestação, incluindo aumento de sangramentos, abortos prematuros e hipertensão na mãe, e problemas mentais, déficit cognitivo e bócio no bebê.
  4. Hipotireoidismo e hipertireoidismo podem contribuir para a infertilidade. Portanto, toda mulher que tenta engravidar deve ter seus hormônios tireoidianos avaliados.
  5. Enquanto alguns especialistas defendem a avaliação tireoidiana para todas as gestantes, outros recomendam priorizar aquelas com mais de 35 anos, histórico familiar ou pessoal de doença tireoidiana, anticorpos positivos ou sintomas.
  6. O tratamento de disfunções tireoidianas na gestante deve ser iniciado imediatamente após o diagnóstico.
  7. A adesão ao tratamento é crucial para a saúde da mãe e do bebê, com a ingestão diária do hormônio tireoidiano e ajustes de dose conforme a evolução da gravidez, especialmente durante o primeiro trimestre, quando o monitoramento é mais frequente.
  8. Mesmo após o parto, a mulher não deve interromper o tratamento se ainda tiver problemas tireoidianos, pois o hormônio tireoidiano não prejudica o bebê, permitindo que a mãe continue amamentando sem problemas.
  9. Durante a gravidez, é comum o aumento da tireoide e a formação de pequenos nódulos, que geralmente não requerem ultrassonografia de rotina, sendo preferível acompanhar e tratar, se necessário, após o parto.
  10. Embora em alguns casos os níveis de hormônios tireoidianos voltem ao normal após a gravidez, as mulheres devem permanecer atentas, pois o risco de desenvolver novos problemas na tireoide é significativo.

Ocorrência de Hipotireoidismo Durante a Gravidez

A tireoidite de Hashimoto emerge como a principal origem de hipotireoidismo durante o período gestacional.

Quais São os Principais Fatores de Risco Associados ao Desenvolvimento de Hipotireoidismo na Gravidez?

Além da manifestação de sintomas e sinais clínicos de hipotireoidismo, diversos fatores aumentam a probabilidade de diagnóstico de distúrbios da tireoide durante a gravidez (hipotireoidismo):

  • Presença de anticorpos tireoidianos (Anti-TPO e anti-Tg);
  • Idade superior a 30 anos;
  • Presença de bócio;
  • Histórico de doenças autoimunes (por exemplo, diabetes tipo 1);
  • Histórico de radioterapia na região da cabeça ou pescoço;
  • Antecedente de cirurgia na tireoide;
  • Histórico familiar de hipotireoidismo e hipertireoidismo;
  • Obesidade mórbida;
  • Uso de amiodarona, lítio ou contraste iodado endovenoso nos últimos 3 meses;
  • Duas ou mais gestações prévias;
  • Histórico de infertilidade, aborto ou trabalho de parto prematuro;
  • Residência em área com deficiência de iodo.

Quais São os Riscos Associados ao Hipotireoidismo Durante a Gravidez?

O hipotireoidismo não controlado durante a gravidez aumenta o risco de aborto, pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, trabalho de parto prematuro, baixo peso ao nascer, necessidade de cesariana, internação em UTI neonatal e baixo QI.

No caso do hipotireoidismo subclínico, caracterizado por elevação dos níveis de TSH, mas com T3 e T4 dentro da faixa normal, estudos apontam associação com os seguintes riscos:

  • Trabalho de parto prematuro;
  • Aborto;
  • Descolamento prematuro da placenta;
  • Internação neonatal em UTI;
  • Síndrome do desconforto respiratório do recém-nascido;
  • Óbito neonatal;
  • Atraso no desenvolvimento intelectual, incluindo linguagem e baixo QI.

Como É Feito o Diagnóstico de Hipotireoidismo Durante a Gravidez?

O diagnóstico de hipotireoidismo na gravidez é realizado por meio de análises sanguíneas que revelam elevação dos níveis de TSH e redução de T4 e/ou T3.

Já o hipotireoidismo subclínico é identificado quando o TSH está elevado, mas T3 e T4 mantêm-se dentro dos limites normais.

É Necessário Ajustar o Tratamento para Gestantes com Hipotireoidismo Prévio à Gravidez?

Gestantes com histórico de hipotireoidismo antes da gestação geralmente precisam aumentar a dose de levotiroxina em 20% a 30% durante a gravidez.

Essa medida é crucial para reduzir significativamente o risco de hipotireoidismo durante esse período.

Se você tem hipotireoidismo e descobriu recentemente estar grávida, é fundamental entrar em contato com seu endocrinologista para avaliar a necessidade de ajuste na dose do hormônio tireoidiano.

Quais são as Principais Causas de Hipertireoidismo Durante a Gravidez?

O hipertireoidismo na gestante é primariamente desencadeado pela doença de Graves e pela tireotoxicose transitória da gestação.

A tireotoxicose transitória da gestação afeta de 2% a 11% das gestantes, enquanto a doença de Graves é diagnosticada em cerca de 0,2% das gestações, sendo presente antes da gravidez em aproximadamente 0,4 a 1% das mulheres. Por isso, é crucial diferenciar entre essas condições devido às suas distintas progressões e tratamentos.

A tireotoxicose transitória da gestação resulta do aumento nos níveis de HCG nas primeiras semanas de gravidez, frequentemente associado à hiperêmese gravídica, caracterizada por vômitos e náuseas.

Quais são os Riscos Associados ao Hipertireoidismo Durante a Gravidez?

O hipertireoidismo não controlado durante a gravidez pode acarretar várias complicações tanto para a mãe quanto para o feto, incluindo pré-eclâmpsia, aborto, insuficiência cardíaca materna e fetal, crise tireotóxica materna, trabalho de parto prematuro, retardo do crescimento fetal intrauterino, baixo peso ao nascer e hipertireoidismo fetal e neonatal.

Como é Feito o Diagnóstico de Hipertireoidismo Durante a Gravidez?

O diagnóstico de hipertireoidismo é estabelecido quando os exames laboratoriais indicam baixos níveis de TSH e elevados de T3 e/ou T4. Na tireotoxicose transitória da gestação, sintomas intensos de hipertireoidismo raramente são observados, e a condição geralmente se resolve espontaneamente após 10 a 12 semanas, à medida que os níveis de HCG diminuem. Além disso, a associação com hiperêmese gravídica pode ser identificada por náuseas e vômitos persistentes.

Por outro lado, gestantes com doença de Graves tipicamente apresentam sintomas característicos de hipertireoidismo, como palpitações, perda de peso, tremores e intolerância ao calor. Além disso, características como bócio, vascularização aumentada da tireoide à ultrassonografia com Doppler e oftalmopatia de Graves são comuns nesses casos.

Qual é o Tratamento da Tireotoxicose Transitória da Gestação?

A tireotoxicose transitória da gestação, geralmente leve e autolimitada ao primeiro trimestre, não requer o uso de drogas antitireoidianas, mas betabloqueadores podem ser utilizados em casos sintomáticos.

E quanto ao Tratamento do Hipertireoidismo Causado pela Doença de Graves na Gravidez?

Para o tratamento do hipertireoidismo na gestante com doença de Graves, as opções incluem drogas antitireoidianas (metimazol ou propiltiouracil) ou tireoidectomia. A ablação com iodo radioativo não é recomendada durante a gestação ou amamentação devido ao risco para a tireoide do bebê. Em casos de hipertireoidismo não controlado ou intolerância a medicamentos antitireoidianos, a tireoidectomia total é uma opção segura, mesmo durante o segundo e terceiro trimestres de gravidez.

O uso de betabloqueadores, como propranolol e metoprolol, é indicado para alívio dos sintomas de hipertireoidismo.

O acompanhamento de gestantes com doença de Graves inclui avaliação dos níveis de anticorpos anti-receptores de TSH (TRAB), que podem atravessar a placenta e afetar o feto. A persistência elevada desses anticorpos após tratamento requer monitoramento adicional do feto para sinais de hipertireoidismo.

Como é o Aconselhamento Pré-gestacional para Mulheres com Histórico de Doença de Graves?

Mulheres em idade fértil com diagnóstico de doença de Graves devem adiar a gravidez até que a função tireoidiana seja normalizada. Se preferirem evitar o uso de drogas antitireoidianas durante a gravidez, a tireoidectomia total ou ablação com iodo radioativo deve ser considerada antes da concepção. Após o tratamento definitivo, a normalização dos hormônios tireoidianos com levotiroxina deve ser garantida antes de conceber. Após ablação com iodo radioativo, é recomendado aguardar pelo menos 6 meses antes de tentar engravidar.

Como é o Acompanhamento de Gestantes com Hipertireoidismo devido à Doença de Graves?

Após o início do tratamento com metimazol ou propiltiouracil, a função tireoidiana deve ser monitorada a cada 2 a 4 semanas até a normalização, seguida de avaliações subsequentes a cada 4 semanas. Reduções na dose do medicamento podem ser necessárias durante o segundo trimestre da gravidez.

Tireoidite Pós-Parto: Principais Aspectos

  1. Causa e Incidência

A tireoidite pós-parto é uma condição autoimune desencadeada pela recuperação do sistema imunológico após o parto, frequentemente associada à presença de anticorpos anti-TPO e anti-Tg. Gestantes com anticorpos anti-TPO positivos no primeiro trimestre têm um risco aumentado de 30% a 50% de desenvolver tireoidite pós-parto.

  1. Fatores de Risco

Os principais fatores de risco incluem a presença de anticorpos tireoidianos, antecedentes de doença autoimune (como diabetes tipo 1 e lúpus), histórico de irradiação no pescoço, antecedentes de aborto ou parto prematuro, e histórico pessoal ou familiar de tireoidite de Hashimoto e doença de Graves.

  1. Evolução da Doença

A tireoidite pós-parto geralmente se manifesta com sintomas de hipertireoidismo entre 4 a 8 semanas após o parto, seguido por uma fase de hipotireoidismo transitório que pode durar de 4 a 6 meses. Cerca de 25% das pacientes seguem o curso clássico com hipertireoidismo seguido por hipotireoidismo, enquanto 50% apresentam apenas hipotireoidismo e 25% apenas hipertireoidismo. Até 50% das mulheres com tireoidite pós-parto podem desenvolver hipotireoidismo permanente, especialmente aquelas com anticorpos anti-TPO positivos.

  1. Sintomas

Os sintomas iniciais podem incluir fadiga, palpitações, irritabilidade e intolerância ao calor durante o hipertireoidismo, enquanto o hipotireoidismo pode manifestar-se com intolerância ao frio, pele seca, depressão, dificuldade de concentração e sonolência.

  1. Diagnóstico

O diagnóstico é estabelecido através da dosagem de TSH, T4, T3 e anticorpos anti-TPO, anti-Tg e TRAB. Durante o hipertireoidismo, o TSH está baixo e T4 e T3 elevados, enquanto no hipotireoidismo ocorre o oposto. O anti-TPO é positivo na maioria dos casos, e o TRAB é útil para diferenciar da doença de Graves.

  1. Tratamento

Betabloqueadores, como propranolol e metoprolol, são usados para aliviar sintomas de hipertireoidismo. Para hipotireoidismo, a levotiroxina é indicada. Após 6 a 12 meses, a dose de levotiroxina é gradualmente reduzida para avaliar a resolução espontânea do hipotireoidismo.

  1. Seguimento

Na fase inicial, a função tireoidiana é monitorada a cada 4 a 8 semanas. Após a normalização, o seguimento ocorre a cada 6 a 12 meses, devido ao risco de recorrência.

 Nódulos tireoidianos e gestação

Durante a gestação, é possível que os nódulos de tireoide cresçam. Esse fenômeno pode ser atribuído ao estímulo dos receptores de TSH pelo hCG, além do estímulo do próprio TSH pela redução dos estoques de iodo no organismo, o que pode predispor ao desenvolvimento ou crescimento de nódulos já existentes.

Para diagnosticar nódulos de tireoide durante a gestação, a ultrassonografia com Doppler é o exame mais indicado. Ele oferece detalhes da composição do nódulo, como ecogenicidade, bordas, presença de calcificações, tamanho e vascularização, permitindo uma avaliação precisa do risco de malignidade e a necessidade de uma punção aspirativa com agulha fina (PAAF).

Quando necessário, gestantes podem realizar a PAAF do nódulo tireoidiano, pois é um procedimento pouco invasivo e não requer o uso de medicações prejudiciais ao feto. No entanto, devido ao excelente prognóstico do câncer diferenciado de tireoide em mulheres jovens, a maioria das punções de nódulos tireoidianos pode ser adiada para após o parto, já que raramente é necessário tratamento cirúrgico durante a gestação.

No caso de câncer de tireoide diagnosticado durante a gestação, a cirurgia geralmente é adiada para após o parto, a menos que haja metástase ou crescimento agressivo do tumor. Se a tireoidectomia for necessária durante a gestação, o segundo trimestre é considerado o momento mais seguro. Em casos de subtipos mais agressivos, como o carcinoma anaplásico e medular, a tireoidectomia durante a gestação pode ser recomendada.

A ablação com iodo radioativo como tratamento adjuvante do câncer de tireoide deve ser adiada para o pós-parto. Isso se deve ao fato de que o iodo é absorvido pelo tecido mamário, o que pode afetar a saúde da criança durante a amamentação. Portanto, é recomendado interromper a amamentação por um período específico antes do tratamento com iodo radioativo para prevenir efeitos adversos da radiação no tecido mamário e na criança.

Dr Victor Menezes é Endocrinologista, especialista em Tireoide, formado na Universidade de São Paulo (USP-SP)

Se você suspeitar de qualquer alteração na tireoide, é recomendável buscar orientação de um endocrinologista para encontrar o melhor tratamento para o seu caso!